Apartheid foi um dos regimes de  discriminação mais cruéis de que se tem notícia no mundo. Ele vigorou na  África do Sul de 1948 até 1990 e durante todo esse tempo esteve ligado à  política do país. A antiga Constituição sul-africana incluía artigos  onde era clara a discriminação racial entre os cidadãos, mesmo os negros  sendo maioria na população.
Ingleses e africâners, para  minimizar a inferioridade numérica, fecharam em 1911 o primeiro acordo  para a aprovação de leis segregacionistas contra a população negra. A  política de segregação racial seria oficializada em 1948, com a chegada  ao poder do Partido Nacional. O candidato Daniel Malan, simpatizante da  ideologia nazista, elegeu-se usando na campanha a palavra "apartheid',  que em africâner significa separação.
Em 21 de março de 1961, em Sharpeville, África do Sul, oficiais de polícia brancos mataram 69 pessoas que protestavam em frente da estação de polícia de Sharpeville.
Em 1487, quando o navegador  português Bartolomeu Dias dobrou o Cabo da Boa Esperança, os europeus  chegaram à região da África do Sul. Nos anos seguintes, a região foi  povoada por holandeses, franceses, ingleses e alemães. Os descendentes  dessa minoria branca começaram a criar leis, no começo do século XX, que  garantiam o seu poder sobre a população negra. Essa política de  segregação racial, o apartheid, ganhou força e foi oficializada em 1948,  quando o Partido Nacional, dos brancos, assumiu o poder.
O apartheid atingia a habitação,  o emprego, a educação e os serviços públicos, pois os negros não podiam  ser proprietários de terras, não tinham direito de participação na  política e eram obrigados a viver em zonas residenciais separadas das  dos brancos. Os casamentos e relações sexuais entre pessoas de raças  diferentes eram ilegais. Os negros geralmente trabalhavam nas minas,  comandados por capatazes brancos e viviam em guetos miseráveis e  superpovoados. 
Para lutar contra essas  injustiças, os negros acionaram o Congresso Nacional Africano - CNA, uma  organização negra clandestina, que tinha como líder Nelson Mandela.  Após o massacre de Sharpeville, o CNA optou pela luta armada contra o  governo branco, o que fez com que Nelson ela fosse preso em 1962 e  condenado à prisão perpétua. A partir daí, o apartheid tornou-se ainda  mais forte e violento, chegando ao ponto de definir territórios tribais  chamados bantustões, onde os negros eram distribuídos em grupos étnicos e  ficavam confinados nessas regiões.
A partir de 1975, com o fim do  império português na África, lentamente começaram os avanços para acabar  com o apartheid. A comunidade internacional e a Organização das Nações  Unidas - ONU faziam pressão pelo fim da segregação racial. Em 1991, o  então presidente Frederick de Klerk não teve outra saída: condenou  oficialmente o apartheid e libertou líderes políticos, entre eles Nelson  Mandela.
A partir daí, outras conquistas  foram obtidas: o Congresso Nacional Africano foi legalizado, De Klerk e  Mandela receberam o Prêmio Nobel da Paz (1993), uma nova Constituição  não-racial passou a vigorar, os negros adquiriram direito ao voto e em  1994 foram realizadas as primeiras eleições multirraciais na África do  Sul e Nelson Mandela se tornou presidente da África do Sul, com o  desafio de transformar o país numa nação mais humana e com melhores  condições de vida para a maioria da população.
A África do Sul é um país de  grande importância estratégica para o mundo ocidental. Ao longo de sua  costa viajam quase todos os navios que transportam petróleo para o  Ocidente. É rica em ouro, diamantes, carvão, ferro, minérios, cromo e  urânio, vital para a indústria militar. Tem uma população de  aproximadamente 44 milhões de pessoas, sendo 85% negros.
Depois do apartheid, a democracia continua para poucos
Modelo neoliberal adotado nos  últimos dez anos agrava as condições de vida dos trabalhadores na África  do Sul e reforça as desigualdades raciais e de gênero.
Centenas de milhares de  servidores públicos da África do Sul, organizados em torno do Congresso  dos Sindicatos Sul-Africanos (Cosatu), trabalhadores, em sua maioria dos  setores de Educação e Saúde, realizaram em junho de 2007, uma das  maiores greves da história da África do Sul, com marchas e protestos por  todo o país exigindo o atendimento de diversas reivindicações, entre  elas um incremento nos seus salários de 10% (a demanda inicial era de  12%).
O governo, que oferecia 6%,  acenou com 7,25%, considerado insuficiente pelos grevistas, que chamaram  a atenção para a queda do padrão de vida dos trabalhadores públicos.
Nesta época, explicou Tebogo T.  Phadu, do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Educação, Saúde e  Associados (Nehawu, na sigla em inglês): “Eles têm enfrentado uma  massiva e brutal reestruturação do setor público nos últimos 10 anos.  Esta reestruturação neoliberal tem causado a privatização ora parcial  ora absoluta dos bens do Estado, terceirização de serviços de apoio e  encolhimento dos serviços públicos”.
Segundo ele, a política salarial  do governo é ditada pela política monetária conservadora do Reserve  Bank (o Banco Central). “Por isso, a política governamental tem sido  geralmente de salários 'anti-vida' para a maioria dos trabalhadores e  muito generosos para a elite”, disse na época.
Contraste social
Como conseqüência, de acordo com  Phadu, a relação salarial entre servidores públicos de elite e os  trabalhadores médios era de 1:29. Ou seja, os primeiros ganhavamm 29  vezes mais que os segundos. Em 1998, a proporção era de 1:18.
Asanda A. Fongqo, chefe de  comunicação da Organização Democrática dos Enfermeiros da África do Sul  (Denosa, em inglês), concordou: “muitas das políticas sociais e  econômicas do governo não tem como alvo a classe trabalhadora e os  pobres. Nós sentimos que o contraste entre os ricos e pobres ainda não  foi eliminado, dada nossa história política”, protestou.
Para ela, os baixos salários dos  servidores públicos do país não eram suficientes para acompanhar os  aumentos nos preços dos alimentos, mensalidades escolares, moradia,  transporte etc. A inflação no país vem subindo nos últimos anos. Em  2005, foi de 3,4%; em 2006, 4,7%. Já o índice medido em abril de 2007  (desde abril de 2006) alcançou os 7%. Além disso, explicou, “há falta de  enfermeiros, que estão extremamente sobrecarregados”.
Por isso mesmo, a adesão da  categoria àquela greve foi alta. Muitos hospitais em todo o país tiveram  um alto percentual de seus funcionários parados. Antes do início das  paralisações, o governo havia obtido na Justiça do Trabalho uma  determinação proibindo a participação dos trabalhadores de setores  essenciais (policiais, funcionários da saúde, bombeiros etc).
No dia 11 de junho, cumpriu a  ameaça e demitiu cerca de 600 enfermeiros e enfermeiras, o que causou a  revolta dos grevistas. “Durante anos, pedimos ao governo a assinatura de  um acordo de serviço mínimo para os trabalhadores da Saúde em caso de  paralisação, mas foi recusado. Desse modo, eles estão privados de seu  direito constitucional à greve”, observou Asanda.
Discriminação
A economia sul-africana vem  crescendo seguidamente desde 2003. Nesse ano, 2007, seu Produto Interno  Bruto (PIB) foi 3% maior em relação ao ano anterior. Em 2004 e 2005, o  crescimento foi de 4,5% e 4,9%, respectivamente. No ano passado, chegou a  5,5%.
No entanto, a população vem se  beneficiando pouco desse boom econômico. Cerca de metade dos  sul-africanos vivem abaixo da linha da pobreza, e o desemprego oficial  foi de 25,5% em 2006. Dados do Labour Force Survey (LFS), instituição do  governo, mostra que a informalidade no país, excluindo os trabalhadores  em agricultura, é de 25,7%. As mulheres são mais atingidas que os  homens: 30,7% contra 21,2%.
Segundo Phadu, os trabalhadores  negros foram os mais duramente atingidos pela reestruturação neoliberal,  “especialmente as mulheres, que ocupam muito da base da hierarquia  salarial. As taxas de emprego discriminadas por raça mostram que as  feridas causadas no país pelo apartheid ainda permanecem abertas. O  índice de desemprego entre os brancos é de 4,5%. Entre os mestiços, de  19,4%. Entre os negros, atinge 30,5%. A discrepância entre o percentual  de mulheres negras desempregadas e homens brancos é gritante: 36,4%  contra 4,4%. “Este é um contexto de uma crise de desemprego e a  correspondente pobreza para milhões de sul-africanos negros”, lamenta  Phadu.


 
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